segunda-feira, outubro 31, 2011
terça-feira, outubro 25, 2011
domingo, outubro 23, 2011
Uma mensagem para Getúlio ou a poesia deslizando pelo rosto
Depois de momentos de emoção à porta do camarim de Sargento Getúlio, com artistas como Nilson Mendes, Margareth Menezes e Geraldo Cohen, fomos eu, Carlos Betão, Cristina Vilanova e Alba Cristina beber uma cerveja e papear.
O assunto, claro, girava em torno da peça, Alba tinha visto pela primeira vez e sempre temos o que falar sobre arte. Mas num momento em que Alba levantou e Betão foi falar algo com Cristina, acessei despretenciosamente meu facebook pelo celular e me deparei com esse texto. Resolvi lê-lo em voz alta para os dois, antes mesmo de saber tudo que estava ali.
A voz embargou, em certo ponto. Olhei pros dois e Betão enxugava uma lágrima que insistia em querer descer, junto com a minha. Cecília Accioly, pernambucana, baiana e do mundo, havia me (nos) mandado essa mensagem que resolvi compartilhar.
Nessas horas me vem a compreensão profunda do que é fazer arte. Um "ainda vela a pena" me soa na alma. As lágrimas de Geraldo Cohen e Nilson Mendes no camarim eram as mesmas no caminho de Cecília, que eram as minhas e as de Betão.
Getúlio fala da "morte deslizando pelo rio". Eu mostro aqui embaixo um texto que fez a poesia deslizar pelo rosto:
Fiquei sem palavras e sem ação no momento em que as luzes se apagaram. De uma delicadeza que só sente quem tem nos pés a terra do chão amarelo (e tão poucas vezes verde) de que se fala! Posso passar horas falando da parte técnica, do trabalho de corpo, do ritmo e entonação das falas, dos tons, das texturas... mas eu prefiro falar do espelho que a peça foi pra mim. Me vi, vi minha família, de machos que preferem uma vida curta, de mulheres que se chamam "Justa", e enxerguei - mesmo caecilia que sou - as histórias que existem em mim, através de mim, tudo o que me põe de pé e me faz viva! Getúlio fala pra todos e pra cada um. Ele fala com a força e o estalar dos pés e da bexiga do boi na coxa do Mateus, do cavalo-marinho que brincava nos natais de minha infância no Sítio da Trindade em Casa Amarela. Ele fala pra mim, comigo, me conta a história dele que também é minha...e entendo porque tenho tanta dificuldade de viver nesse mundo de velhos frouxos. Sou de um mundo de velhos machos, sou uma! Minha alma o é! E vim do Itaigara até os Barris rindo, chorando, lembrando e vendo uma beleza nas pessoas que há muito eu não via. Pode ser piegas, pode ser qualquer coisa, mas escrevo com uma sinceridade de me desnudar quase que completamente.
E, ao final, quis te dar um abraço, e te agradecer, e agradecer àquele homem belíssimo de cima do palco, pela experiência de um re-olhar...pra mim mesma!
Cecília Accioly
O assunto, claro, girava em torno da peça, Alba tinha visto pela primeira vez e sempre temos o que falar sobre arte. Mas num momento em que Alba levantou e Betão foi falar algo com Cristina, acessei despretenciosamente meu facebook pelo celular e me deparei com esse texto. Resolvi lê-lo em voz alta para os dois, antes mesmo de saber tudo que estava ali.
A voz embargou, em certo ponto. Olhei pros dois e Betão enxugava uma lágrima que insistia em querer descer, junto com a minha. Cecília Accioly, pernambucana, baiana e do mundo, havia me (nos) mandado essa mensagem que resolvi compartilhar.
Nessas horas me vem a compreensão profunda do que é fazer arte. Um "ainda vela a pena" me soa na alma. As lágrimas de Geraldo Cohen e Nilson Mendes no camarim eram as mesmas no caminho de Cecília, que eram as minhas e as de Betão.
Getúlio fala da "morte deslizando pelo rio". Eu mostro aqui embaixo um texto que fez a poesia deslizar pelo rosto:
Fiquei sem palavras e sem ação no momento em que as luzes se apagaram. De uma delicadeza que só sente quem tem nos pés a terra do chão amarelo (e tão poucas vezes verde) de que se fala! Posso passar horas falando da parte técnica, do trabalho de corpo, do ritmo e entonação das falas, dos tons, das texturas... mas eu prefiro falar do espelho que a peça foi pra mim. Me vi, vi minha família, de machos que preferem uma vida curta, de mulheres que se chamam "Justa", e enxerguei - mesmo caecilia que sou - as histórias que existem em mim, através de mim, tudo o que me põe de pé e me faz viva! Getúlio fala pra todos e pra cada um. Ele fala com a força e o estalar dos pés e da bexiga do boi na coxa do Mateus, do cavalo-marinho que brincava nos natais de minha infância no Sítio da Trindade em Casa Amarela. Ele fala pra mim, comigo, me conta a história dele que também é minha...e entendo porque tenho tanta dificuldade de viver nesse mundo de velhos frouxos. Sou de um mundo de velhos machos, sou uma! Minha alma o é! E vim do Itaigara até os Barris rindo, chorando, lembrando e vendo uma beleza nas pessoas que há muito eu não via. Pode ser piegas, pode ser qualquer coisa, mas escrevo com uma sinceridade de me desnudar quase que completamente.
E, ao final, quis te dar um abraço, e te agradecer, e agradecer àquele homem belíssimo de cima do palco, pela experiência de um re-olhar...pra mim mesma!
Cecília Accioly
sexta-feira, outubro 21, 2011
HOJE, dia 21/10/2011, excepcionalmente, o espetáculo "Sargento Getúlio", da obra de João Ubaldo Ribeiro será às 19hs. Por favor, se estiverem pensando em ir ou souberem de alguém que vai ou pensou em ir, compartilhem essa notícia para evitar constrangimentos e viagens perdidas!!! Dias 22,10, 27, 28 e 29 seguem normais, às 20hs. ÚLTIMAS APRESENTAÇÕES!!!
quinta-feira, outubro 20, 2011
sábado, outubro 15, 2011
Carta aberta a Luiz Marfuz
Caro Luiz Marfuz,
Surpreendeu-me, hoje, ler nas redes sociais um artigo seu
publicado no jornal A Tarde de 14/10/2011 (abaixo na íntegra). Intitulado “Mais
respeito aos artistas baianos”, vi seu incômodo em relação aos critérios na
seleção de espetáculos baianos para o Festival Internacional de Artes Cênicas.
Os dois pontos que você toca também foram questionados internamente
pelo meu grupo, o Teatro NU, quando da publicação do artigo de Eduarda Uzeda,
em 06/10/2011, no mesmo jornal A Tarde. O primeiro deles, de que “os artistas locais
sabiam como participar” soou estranho, pois também não vimos divulgação alguma
em nenhum lugar. Absolutamente nenhum indicativo de prazos, seleção, critérios,
qual e para onde enviar material do(s) espetáculo(s).
O segundo, como você cita, é “que a linha editorial era ‘questionar
o lugar do espectador’”. Sobre esse, que nos causou confusão, vale a pena
discorrer um pouco mais.
Acostumados a não nos encaixarmos em linhas editorias e
critérios de seleção de festivais e editais – talvez pela baixa qualidade do
que apresentamos como proposta e resultado, tal qual você cita em relação a As velhas – nunca fizemos, nós do Teatro
NU, muito barulho pela nossa não seleção. Apenas pontuamos seguidamente nossa infelicidade
em perder sucessivos editais e não poder participar de eventos que pudessem
projetar o grupo de alguma forma.
O Teatro NU surge de uma ideia minha e de Jussilene Santana
de privilegiar o trabalho do ator e sua relação com e texto, e buscar uma
dramaturgia que possa, sem oba-oba e modismos, questionar certos limites da
cena: seja no trabalho do ator, seja na estrutura do texto, seja na temática e
na abordagem da cena, da ação, do conflito, da ideia.
Sendo um grupo praticamente autoral – demorei anos para “obedecer”
Ewald Hackler e passar a dirigir minha própria dramaturgia –, montamos com
nosso grupo duas peças minhas, na sequencia, Os amantes II (2006) e Os
javalis (2008), após a boa repercussão que tive em Roma, na Itália, com os
dois textos.
Em seguida, tive uma súbita ideia. Percebendo um pequeno
palco na Sala de arte da UFBA, pensei em fazer peças curtas antes de sessões de
cinema. Levar teatro às salas de projeção. De imediato, pensei nas deliciosas
peças curtas de Anton Tchekhov. Aprovados pelo Fundo de Cultura do Estado, montamos,
com nossos atores Carlos Betão e Marcelo Praddo, e a participação mais que
especial de Fafá Menezes, O pedido de
casamento, O urso e Dos males do tabaco.
Depois disso, repetimos o projeto que foi chamado Teatro NU
Cinema, mas já nos interessava um diálogo com a dramaturgia contemporânea e
selecionamos duas peças curtas de autores baianos para a segunda edição e,
depois de umas dez derrotas em editais, a VIVO resolveu patrocinar Sargento Getúlio, monólogo a partir da
obra de João Ubaldo Ribeiro, com dramaturgia minha, novamente.
Vale ressaltar que as peças curtas de Anton Tchekhov estão
tendo vida longa. Foram apresentadas, a convite de Rose Lima, diretora
artística do Teatro Castro Alves, para abrir o projeto Domingo no TCA, para
mais de seis mil pessoas, durante seis meses, e resolvemos juntar duas delas, O pedido de casamento e O urso e fazer o espetáculo “Dos males
dos casamentos: Tchekhov em dois tempos”, que teve curta temporada de sucesso no
Theatro XVIII e no Cine Cena Unijorge.
Todo esse blablablá foi para retornar à questão da linha
editorial que era “questionar o lugar do espectador”. Já acostumados à nossa
não seleção, reservei-me o papel de anônimo espectador do FIAC, esse ano, até
que a produtora do Teatro NU, Fernanda Bezerra, me liga dizendo que o
espetáculo “Dos males dos casamentos...” havia sido convidado para o festival,
sem que ao menos tivéssemos sondado, enviado material ou coisa parecida.
Depois do primeiro susto, e satisfação pela lembrança e escolha, pensamos: um
festival é uma vitrine, para onde se leva o que de mais representativo da
estética de um grupo se pode ter, e resolvemos fazer uma contraproposta. Ao
invés de dois dias de “Dos males...”, faríamos pelo mesmo preço um dia dessa
peça e outro com Sargento Getúlio,
por ser nossa obra mais recente e nos interessar difundi-la por ser representativa da nossa estética enquanto grupo.
O festival recusou.
Entendendo que ter o Teatro NU representado por um espetáculo
que não é um “cartão de visita” do grupo, a despeito da qualidade das peças de
Tchekhov, da excelente atuação dos três atores e do satisfatório resultado
final, preferimos então declinar do convite. Interessa-nos muito participar do FIAC,
e ainda queremos vida longa a “Dos males...”, mas não como estética representativa
do grupo para um festival que parece privilegiar as diferentes abordagens
estéticas da cena contemporânea.
Causa-nos surpresa saber desse critério de “questionar o
lugar do espectador”. As peças curtas de Anton Tchekhov questionam a sociedade,
da qual o espectador faz parte. Mas se o convite havia sido por isso, penso que
Sargento Getúlio, assim como As velhas e toda e qualquer obra de
arte, digo, de arte, também o faz. E, pensando sob a ótica do FIAC, me parece
que essas duas últimas têm mais “cara de festival”, ou o que se pode entender
por isso.
Há um festival imcompreensível de abordagens e critérios
para o Teatro NU. E, pelo visto, para você também.
Um abraço,
Gil Vicente Tavares
Diretor artístico do Teatro NU.
Jornal A Tarde, 14 de
outubro de 2010.
MAIS RESPEITO AOS
ARTISTAS BAIANOS
Luiz Marfuz
Deboche é pouco para
definir as declarações de Felipe Assis, porta-voz da curadoria do Festival
Internacional de Artes Cênicas- FIAC-BA, sobre a seleção das peças baianas, ao
dizer que a linha editorial era “questionar o lugar do espectador” e que os artistas
locais sabiam como participar. Ora, senhor Felipe, acha que a classe teatral é
idiota? Em que veículo público isto foi divulgado? Pergunto: quem soube de
inscrições, seleção e conceito do FIAC? Só agora a curadoria se pronuncia
forçada por A Tarde, em 06/10/11.
Sem referências, e em
atenção ao elenco de As Velhas, procurei o FIAC, há dois meses. Lá me foi dito
que a curadoria, composta também por Ricardo Libório e Nehle Franke -
informação dada por Felipe Assis – veria as peças locais. Um mês depois, ele
anuncia que a peça estava fora da programação, apesar dele não ter visto o
espetáculo. Não sei quem foi selecionado, mas respeito os trabalhos de meus
colegas. Devo dizer que as peças que dirigi nunca passaram pelo crivo do FIAC.
Policarpo Quaresma foi caso à parte: era parceria do Festival com TCA. Núcleo.
Critérios de seleção? Um deles, certo ano, – em teatro tudo se sabe – era
checar se a peça tinha “cara de festival”. Alguém sabe o que é isso?
Ou talvez a questão
não seja esta; no caso de As velhas, a curadoria deve ter achado o espetáculo
sem qualidade, atores ruins ou mal dirigidos, tema sertanejo anacrônico,
direção medíocre. Agora, com a declaração de Felipe, concluo que a peça As
velhas - apesar de ocupar espaço de modo não convencional, aberto a olhar
múltiplo - não “questiona o lugar do espectador”. Urgente se faz questionar “o
lugar do curador”!
FIAC é evento
internacional, mas deve trazer resultados para a Bahia. Fazer investimento
deste porte só para dizer que estamos na rota do primeiro mundo seria outro
deboche. Há incentivos governamentais, inclusive da SECULT. O Festival deve
gerar ações que instiguem e insiram no cenário nacional a produção local, que
nunca deveu nada aos espetáculos de fora selecionados pelo FIAC. Senhores
curadores, mais respeito aos artistas baianos!
domingo, outubro 09, 2011
Santarrita, santa paciência, sem ter companhia...
Meu pai me enchia o saco. “Você tem que falar com cicrano.
Você tem que conhecer beltrano”. Muito chato. Mas era mais chato ainda ter que
aguentar os meses que ele ficava “de mal” comigo. Era melhor obedecer e andar
com os velhos intelectuais que ele listava numa folha de papel quase ilegível.
Fui pro Rio, numa das minhas idas ao Rio que eram voltas. O
Rio é minha casa, tanto quanto a Bahia, e mesmo os amigos novos que faço por
lá, ou amigos velhos que faço por intermédio (ainda) de meu pai, parecem ter
origem num ponto lá atrás onde eu ainda não era alguém. E por isso me formavam
em tudo.
Pois bem. Numa dessas idas ao Rio, meu pai, que saco, me legou
a incumbência de falar com zilhões de amigos dele. Eu, idiota, achando tedioso
cumprir essa via crucis, me deparei com uma lista (zzz) de amigos que eu devia
ligar, prestigiar e (saco!) convocar a um encontro.
Incorri no erro de ligar para alguns. Dentre eles, Marcos
Santarrita. Segundo meu pai, merecedor de cadeira da ABL, como ele (que os
estúpidos me condenem), grande tradutor e escritor de um dos grandes romances
contemporâneos (segundo meu pai), Mares
do sul.
Tive uma noite de chopps com ele e Alda Porto (outra daquelas grandes e diminuídas). Uma noite
especial, conversa de alto nível, daquelas que me mostra minha pequenez da
forma mais deliciosa que existe. Ele me falou de uma peça sua, inédita, e me
ofereceu. Disse que ia mandar pra mim e eu, com meu preconceito e petulância de
artista que não dá ousadia a ficcionistas, acabei por nunca ler.
Meu projeto mais recente (sim, porque projeto não é o
ganha-pão, mas um objetivo de vida) era ir ao Rio. E estava, entre minhas
obrigações de prazer, tomar chopps com Alda e Marcos.
Mas, ao verificar emails, recebo a notícia de uma missa de
sétimo dia. Câncer no pulmão. Santarrita durou dois anos a mais que meu pai.
Morreu aos 72. Sem ninguém saber quem ele era em Aracaju ou Salvador. Homem
maior, morreu lá pelo Rio, no sul maravilha, e, vida maravilhosa, foi mais um
daqueles de rodas pequenas, de notícias tímidas, de repercussão modesta.
Tudo bem que ele não seja reconhecido. Tudo ótimo que ele
não faça parte da Academia Brasileira de Letras, para a qual até meu cão foi
indicado. Tudo perfeito que ele não saia na Veja, na Istoé, no Faustão ou na Cult ou
Bravo. Tudo isso é muito pouco, é muito pequeno.
Eu quero saber é quem vai compensar meu chopp em Ipanema com
ele e Alda se engalfinhando e se amando na exata proporção que cabe na arte e
na poesia.
GVT.
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