domingo, outubro 10, 2010

Aborto, casamento gay, drogas e a Santa Inquisição no Brasil


O Brasil vive numa Idade Merde-a. O avanço do país ainda está na mão dos reacionários e caretas, dos teleguiados pela imprensa e os exaltados em discursos rasos. Esses são sintomas de um povo atrasado, sem cultura e educação, coisas que demoraremos ainda um bom tempo pra resolver.

O Brasil é um país laico. As decisões do Estado são soberanas e independem de credos e crenças.

Não. O Brasil não é um país laico. As decisões do Estado não são soberanas e dependem de credos e crenças.

Uma das armas sujas encontradas para se tirar votos da candidata no PT, Dilma Rousseff, foi tocar nos assuntos da legalização do aborto, descriminalização das drogas e casamento homossexual. A ideia da oposição é retirar os votos de católicos, espíritas e evangélicos, parcela grande da sociedade brasileira.

Não me interessa entrar em discussões políticas acirradas sobre a polarização do segundo turno, mas ir mais fundo num problema grave que o Brasil sofre. Vivemos cerceados pela opinião religiosa que, em hipótese alguma, deveria influenciar a condução de um país.

Lembro quando quiseram derrubar Lula com a ideia de que ele não acreditava em deus. Ora, pouco deveria importar a qualquer um se um candidato acredita em deus ou não. O que precisamos é de um presidente que administre, delegue e resolva questões do país. Seu credo pouco importa. Mussolini, Hitler, Bush e Saddam eram religiosos, e não necessariamente foram exemplos de bons líderes por conta disso.

A legalização do aborto, o casamento homossexual e a descriminalização das drogas são pautas fundamentais para o avanço do país. E as duas primeiras vão além de seu valor prático, têm uma força simbólica que ultrapassa questões de saúde pública e direitos de família.

Vamos às drogas, primeiro. Há uma descriminalização das drogas informal. Qualquer um que quiser comprar sua cocaína, sua maconha ou crack sabe aonde ir, ou liga pedindo em casa, e não há efetivo policial, por falta de estrutura, honestidade ou disponibilidade, que dê conta disso. A única diferença é que sendo as drogas ilegais, apenas o tráfico domina esse comércio, e assim ele é alimentado. Claro que teríamos que entrar numa política sul-americana de descriminalização aos poucos, pensando fronteiras, leis, e estabelecendo um plano que compreenda a venda com receita das drogas, cadastro do consumidor computadorizado e impostos que recaiam violentamente – como no caso do cigarro – sobre a venda autorizada. Ao invés de se gastar com a contenção do tráfico, o governo passaria a ganhar com impostos. E o tratamento do viciado já recai, em muitos casos, nas costas do governo. Não há hospital que recuse tratar uma overdose por conta de ter sido com produto ilegal, nem tampouco se rejeita viciados em clínicas por conta disso.

Ninguém deixa de ser homossexual porque é proibido o casamento. E a regulamentação do casamento gay seria um avanço significativo em várias frentes. Antes de tudo, precisa-se defender os direitos do parceiro, independente de sua opção sexual. Duas pessoas do mesmo sexo que moram juntas, constroem uma vida juntas, merecem ter direitos sobre as propriedades de seus parceiros, pra que não aconteça, como em muitos casos, de um parceiro ficar na mão porque não tem direitos e a família do outro, que muitas vezes o abandonou por sua opção sexual, acabe herdando tudo.

Além disso, seria um tapa de luva nas religiões, que insistem no preconceito com a opção sexual de cada um, a regulamentação da união homossexual. O Estado legitimaria a união gay como um direito civil e com isso trataria a questão do homossexualismo como uma conduta normal. Isso seria um conquista, uma derrubada de tabus e preconceitos religiosos, e seria um avanço significativo no respeito às diferenças.

Quanto ao aborto, é um assunto que me irrita muito. Ninguém deixa de abortar ou tentar abortar nesse país. A única diferença é que quem tem dinheiro paga R$1.500,00 pra ir numa clínica especializada. Quem não tem, toma citotec, vai a clínicas sem higiene e se submete a métodos selvagens de retirada do feto; risco de morte certo. Só que as religiões criticam o aborto porque é uma vida que se esta retirando, e deus blablabla, e pepepê caixa de fósforo.

Se sua religião não permite; não faça. Mas sua opinião religiosa, mas a opinião de bispos, pastores, doutrinadores não importa ao país. Ao país importa resolver uma questão de saúde pública, independente dos credos, valores pessoais, éticas e morais religiosas. E a legalização do aborto, para além de uma necessidade prática, seria uma afirmação disso.

A legalização do aborto deve vir sucedida por algumas ações. A pessoa é cadastrada, deverá regularmente visitar um médico, ser informada sobre todos os meios contraceptivos e – sendo o caso – ter a cirurgia de ligamento de trompas oferecida gratuitamente. Faz-se filhos demais, neste país. Por ignorância, falta de informação, irresponsabilidade. “E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto e nenhum no marginal”, diria Caetano. Há que se fazer um planejamento familiar, e neste ponto o bolsa-família deveria ser ao contrário. A família só ganharia o direito até o segundo filho. A partir do terceiro, mais nada. Temos um problema de superpopulação pior que o Japão, pois lá é falta de espaço, aqui é falta de educação, saneamento, cultura, saúde, direitos básicos que, com o inchaço histérico da população, jamais serão sanados.

A campanha de Dilma Rousseff está retirando qualquer referência ao aborto, às drogas e ao casamento homossexual de seu projeto de governo para não perder os votos dos católicos, evangélicos, espíritas, e sei lá quem mais. Essa ditadura religiosa atravanca o país. Precisamos atualizar a agenda do país sem preocupação com opiniões religiosas, questão de foro íntimo e pessoal de cada um para consigo e para com sua religião.

Eu tenho vergonha de viver num país onde assuntos importantes são abandonados por conta da mentalidade tacanha, atrasada, careta e reacionária dos dogmas religiosos.

Sofremos uma santa inquisição, digna da Idade Média.

Precisamos sair da Idade Merde-a.

3 comentários:

Anônimo disse...

Quanto preconceito com a Idade Média!

Os carolíngios praticavam infanticídio e a Inquisição, se foi criada na época medieval, só atingiu o seu auge persecutório na Idade Moderna.

Se você quer chamar de atrasados os que se manifestam desta ou daquela forma no NOSSO TEMPO, tente se basear apenas nos seus argumentos (que são válidos, por sinal). Acusar o outro de ter mentalidade medieval é um problema duplo. Em primeiro lugar, você não avança no debate porque se mostra intolerante com os intolerantes (ah, mas a sua intolerância vale mais, né?). Em segundo, pq vc está sendo muito injusto com os homens medievais, que não tem nada a ver com isso.

Aline Bitencourt disse...

Parabéns pela sua expressão aqui, especialmente, neste texto. Tenho visto poucas pessoas que se expressam dessa maneira: clara, verdadeira e direta. Obviamente, muitos não gostarão das suas colocações e se prenderão a detalhes. Mas, as suas colocações têm efeitos muito mais do que essas palavras.

Anônimo disse...

É... é uma pena que os valores da família estão sendo por muitos massacrados. Será que nãompersebem que até mesmo os casais homoafetivos mostram que é necessário o masculino e o feminino para se completarem? Pois entre 2 lésbicas sempre há a feminina e a machona, assim como entre os gays há o machão e o efeminado. Deus faz tudo perfeito e, qdo tentamos distorcer sua criação tendemos, de alguma forma, os desejos naturais que Ele plantou em nós. O macho não deseja o macho, nem a fêmea se sente atraída por outra como ela. E, na questão do aborto, ninguém quer realmente a morte. De ninguém. Qto mais a de um bebê inocente e indefeso. Não é uma questão religiosa. É natural, é moral, é básica para qq ser humano.