sábado, março 14, 2009

Glauber aos 70...

Hoje, dia 14 de março, Glauber Rocha faria 70 anos de idade. No mesmo dia de Castro Alves.

Glauber sempre disse que morreria com a idade inversa do grande poeta brasileiro. Castro Alves morreu com 24. Glauber, como havia vaticinado, com 42.

Hoje, dia 14 de março de 2009, a Bahia demonstra como valoriza seus grandes artistas. Basta ver a programação local referente aos 70 anos de nascimento de um dos mais controversos e criativos cineastas da história do cinema mundial.

Muitos dizem que Glauber não suportaria viver os dias de hoje. As discussões acaloradas que marcaram seus 42 anos de vida hoje seriam bravatas de um homem só. Possivelmente abandonado, reflexo de um Brasil que passou. Costumamos matar nossos “heróis” para louvarmos no túmulo. Um herói vivo é inconveniente, pois diz verdades que, morto, servem como frases para camisetas, citação para artigos e livros. Outro baiano esquecido pelo Bahia, Dias Gomes, metaforizou isso muito bem em sua peça O berço do herói, que viria a se tornar a novela Roque Santeiro, tempos depois. Outro autor que soube, como Glauber, manter um saudável e avançado diálogo com a cultura tradicional, mas transubstanciando tudo isso em arte.

Quais são os reais valores de nossa cultura? A cultura do povo existe, se transforma e se renova a despeito do incentivo do capital privado e da verba pública. As procissões religiosas, as manifestações tradicionais e as festas de largo existirão pelo e para o povo, e são autênticas e legítimas assim.

Mas um povo sem outra cultura que não a que emana naturalmente de si – que lhe é inerente por tradição e espontaneidade – é um povo que não comemora os 70 anos de nascimento de Glauber Rocha. Se ao povo não lhe é dado esse conhecimento, se ao povo não lhe é dada outra cultura, seremos eternamente exóticos seres folclóricos? Que cidade nós queremos para o século XXI?

Que valor nós damos à nossa arte?



GVT.

Um comentário:

Anônimo disse...

NECROFILIA é o nome da doença. Parece que só os mortos, têm um certo valor neste País. E de preferência os defuntos exportados e chancelados pelos estrangeiros. Daí passamos a reivindicá-los, remasterizá-los, reeditá-los porque andamos na ré da história. Puta chauvinismo!

(Geraldo Cohen)