quarta-feira, março 28, 2007

O Mundo do Teatro em Salvador – Balanço 2006

Março é o mês do Dia Mundial do Teatro. Apesar da divergência das datas (muitos comemoram no dia 27, outros 20 ou mesmo 21), é sempre uma oportunidade de introduzir o tema na agenda da mídia. E porque não fazermos isso agora, traçando um rápido balanço sobre a situação da cena teatral em Salvador. Não raro mapeamentos como este começam com os desgastados apelos românticos, atribuindo a efetivação do teatro local, sobretudo, ao idealismo e persistência de seus artistas, visto que aqui a dinâmica profissional ocorre mais em termos técnicos (mão-de-obra formada), do que com a existência de um mercado estável que os remunere. Diante disso, parece-nos coerente que esta cena seja compreendida a partir de suas unidades de produção. Afinal, nesta conjuntura, quem produz hoje na cidade? Em 2006, foram apresentados 43 espetáculos. Nos anos anteriores, ocorreram, respectivamente, 50 e 48 montagens. Não são números desprezíveis. Ao menos em termos quantitativos. De imediato, nos chama atenção as realizações associadas às duas unidades históricas de produção da capital: a Escola de Teatro, 51 anos; o Teatro Vila Velha, 43 anos. A graduação da ET apresentou ao “mercado” seus trabalhos de conclusão em direção e interpretação como A Casa dos Espectros, Barrela, Estilhaços, Navalha na Carne. Orinoco e Sábado, Domingo e Segunda. Já a Pós-graduação da ET (PPGAC) trouxe, entre outros, espetáculos direta ou indiretamente desdobrados de pesquisas, como Fato(s) do Brasil, Os Amantes II e O Grande Passeio. Os demais trabalhos ficaram restritos a um certo “circuito acadêmico”, que a cada ano ganha mais vulto no país. Tanto o Curso Livre (22 anos de criação), quanto a Cia de Teatro da Ufba (27 anos) atravessaram 2006 sem nenhuma estréia. De certa forma, mas não exclusivamente, a ausência destas produções está ligada ao fechamento do Teatro Martim Gonçalves, em reforma já há sete anos. Também num certo sentido, uma linha de abordagem estética sempre presente na Cia da Ufba teve prosseguimento na 12a. Montagem do TCA, com o espetáculo Mestre Haroldo...E os Meninos. O TVV estreou e remontou diversos espetáculos com os seus seis grupos residentes. O Bando de Teatro Olodum remontou Sonhos de Uma Noite de Verão; a CTN e o Vilavox trouxeram mais uma vez Primeiro de Abril. O Vilavox estreou ainda Canteiros de Rosa e A Outra Cia. de Teatro, O Contêiner, selecionado para a mostra oficial do Festival de Teatro de Curitiba 2007. O Edital da Funceb produziu (médio porte) Amor e Loucura e Do Lado de Dentro do Canto da Sereia, montagens algo ligadas à Pos, e que tiveram pouca repercussão. A Coelba patrocinou (FazCultura/Rouanet) Irmã Dulce e Família Drama Show. O Prêmio Funarte Myriam Muniz injetou ânimo e recursos a diversos projetos da Cooperativa Baiana de Teatro. Dois grupos que comemoraram dez anos produzindo: o Dimenti, com sua pesquisa pelos clichês e corporeidade dos cartoons; E o Teatro XVIII, reapresentando Esse Glauber e lançando Pague Para Ver, com a recém-criada Tribo do XVIII e A Comida de Nzinga, com Cia Axé. Já a Companhia Teatro Visível (ex- Por um Fio) apresentou o Bloco dos Infames. Nehle Franke e Fernando Guerreiro remontaram, respectivamente, Murmúrios (Petrobrás/Da Rin) e Vixe Maria (30 anos Funceb, em 2004). Artistas performers como Fábio Vidal e Ricardo Castro circularam com o repertório. A Cia Baiana de Patifaria também prosseguiu apresentado seus cases de sucesso, como A Bofetada. A EP Produções se apresenta cada vez mais concentrada na área de dança, enquanto a Fred Soares Produções ganha mercado com peças de forte apelo comercial. Para finalizar, em balanços como este também se costuma festejar a então diversidade de estilos e linguagens presentes na cena local. Contudo, essa multiplicidade de tendências é sua força e fraqueza, pois variedade também é pulverização. De recursos, de público e de diálogo. E não há um pensamento articulado que ouse arriscar um significado geral para esta eclosão de individualidades. Não há um raciocínio que reflita sobre esta prática e suas repercussões na sociedade. Na falta de uma “crítica da razão teatral”, sobra para as assessorias de imprensa, a depender do poderio, a defesa de seus produtos na cobertura jornalística. Por isso é que todos os espetáculos citados foram, à sua maneira, “um dos eventos mais importantes do teatro baiano dos últimos tempos”.

por Jussilene Santana - junesantana@ig.com.br
Artigo gentilmente cedido pelo jornal Notícias metropolitanas

terça-feira, março 27, 2007

DIA DO CIRCO e do teatro

Bastante sintomático. Não vi registro em páginas da internet sobre este "grande" dia. E o espaço dedicado a isso, na emissora mais assistida do país, foi de destaque total para o circo.
Falta de crédito? Mérito? Pretérito?
Não podemos reclamar, pois como bem diz Alain Finkielkraut sobre os tempos atuais, em seu A derrota do pensamento: um par de botas vale tanto quanto Shakespeare...

sexta-feira, março 23, 2007

Um excelente filme médio

Está em cartaz, na sala Walter da Silveira, o filme Em segredo, vencedor do Urso de Ouro de Berlim em 2006.
Porque um filme médio. A diretora e roteirista Jasmila Zbanic não tem pretensão de ser genial, e nem mesmo o filme tem essa vocação. É um simples filme sobre a vida de uma mãe solteira com sua filha, em meio às misérias de uma ex-Iuguslávia esfacelada, empobrecida e desestruturada. Situações cotidianas, relações normais, crises redundantes, tudo isso com uma câmera segura, tão segura a ponto de não aparecer; uma direção de arte muito bem-feita; figurinos bem escolhidos; roteiro discretamente redondo, enxuto, seguro.
Um filme médio; mas excelente. Todas as características que o tornam médio fazem dele um filme especial. Porque o médio é bem-feito, como geralmente não se vê no cinema mundial que pretende tratar de casos particulares, familiares, desesperados, miseráveis, etc.
O filme não realça os dramas do cotidiano com cenas desesperadas, músicas de fundo, clichês românticos e dramatúrgicos. Pelo contrário, o filme surpreende justamente pelas cenas onde o espectador imagina tudo, menos o simples, o médio, o excelente que acontece.
Cenas sensíveis. Bem escritas, interpretadas e filmadas. Coisa rara de se ver no cinema atual, que sempre escapole pro clichê barato ou pro não acontecer dramático, como se a não resolução de conflitos fosse uma salvação para fugir do melodramático.
Prêmios não indicam qualidade. Muito menos coerência. Menos ainda exprimem um reconhecimento por um trabalho acima da média, mesmo sendo médio. Por isso esqueçamos o Urso de Ouro. O que vale no filme é que vemos a realidade de um país, sem maniqueísmos, sem peninha dos pobres e fracos e sem mensagem de que o capitalismo malvado acaba com a vida dos coitadinhos. Através da dignidade, simplicidade e realidade de uma mulher, entendemos seu país, seu mundo, que é nosso mundo, nosso país, nossa casa.